Há luz (solar) no fim do túnel
Situações adversas têm diversos fatores negativos, mas também podem ser usadas como o estopim para uma mudança de comportamento e reavaliação dos padrões e condições vigentes. Nos últimos dias, a dependência nacional do petróleo e do transporte rodoviário foi sentida em incontáveis setores corporativos e, principalmente, por todos os cidadãos. O sistema nacional é amplamente apoiado em combustíveis fósseis, mesmo com alternativas renováveis e sustentáveis à disposição para expansão.
Mudança de mindset: descentralização e distribuição.
Ao invés de focar em detalhar o problema, um momento de crise pede inovação e mudança. Para isso, olhar outros mercados em busca de inteligência e inspiração é sempre um bom caminho. Provavelmente, você já ouviu falar em gestão descentralizada ou blockchain e bitcoins. Mas o que há de inspirador para a crise de abastecimento? Atualmente, vivemos um sistema dependente de pontos centrais. O risco é que quanto menor o número de pontos de distribuição, maior o risco de escassez.
Por exemplo, em uma empresa com gestão centralizada, todas as decisões dependem do aval de um líder e todos os demais colaboradores dependem da atuação dele para realizarem suas funções. Na gestão descentralizada, há diversos líderes com alçadas específicas e competências diferentes. Cada vez mais empresas aderem à gestão descentralizada em busca de agilizar o gerenciamento do negócio e possibilitar uma atuação mais estratégica. Por que não descentralizar a oferta de energia? Investir em soluções renováveis e sustentáveis, além do viés ecológico e social, tem potencial para evitar os problemas decorrentes da dependência de um sistema massivamente baseado em uma ou poucas fontes.
Transportando o conceito de descentralização para os combustíveis, seria equivalente a existência de diversas fontes de abastecimento, que não seriam interdependentes e que ofereciam opções variadas. Indo além no conceito de oferta múltipla, há também a inspiração do blockchain, que evoluiu a rede descentralizada para uma rede distribuída. O conceito é bastante complexo para ser explicado aqui e eu não sou especialista no assunto, mas basta considerar que no blockchain a troca não depende de nós centrais que distribuem os dados aos demais, todos são distribuidores e recebedores.
Isso levou meu pensamento automaticamente para um projeto que a SS Solar desenvolveu no passado. De forma resumida, eram carros elétricos abastecidos por meio de energia solar captada em garagens construídas como uma solução solar. Ou seja, produção, distribuição e abastecimento de veículos no próprio local onde eles permaneciam estacionados. Cada vez mais, a tecnologia coloca o controle na mão do usuário e, cada vez menos, opções centralizadas são suficientes para atender a demanda. A crise deixou claro que pensar e planejar um transporte baseado em soluções independentes e, acima de tudo, renováveis e sustentáveis não é uma necessidade do futuro, mas sim do presente.